Punta Norte. Península Valdes.

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Marcelo Augusto Santana de Melo

A natureza reserva momentos especiais onde fenômenos ou fatos revelam seu esplendor máximo. Na Península Valdés na Patagônia Argentina, em Punta Norte, se pode presenciar um raro e espetacular momento de exuberância da vida selvagem, onde orcas (orcinus orca), maiores representantes da família dos golfinhos, fazem jus à fama de assassinas, embora não como o cinema retratou.

Orcas são conhecidas pela inteligência e por terem comportamento social e comunicação altamente desenvolvidos. Nesta região elas desenvolveram uma técnica de caça conhecida como “varamiento”, realizada nas praias de pedra, onde se lançam quase que totalmente fora da água em direção de filhotes de leões-marinhos-da-patagônia (Otaria flavescens) obtendo um êxito raramente encontrado em predações de outros animais.

Engana-se quem pensa ser uma técnica fácil de ser executada, as agitadas águas do atlântico sul, em decorrência dos fortes ventos e marés, forçaram as orcas a escolher o momento ideal para o ataque que ocorre quando as ondas se acalmam e o vento-norte dá um pequena trégua ou ventana (janela) como dizem os especialistas locais, ficando a água plana; mas ainda é necessária a combinação de outras variáveis como a condição das marés pra evitar que fiquem encalhadas e, obviamente, a presença na água de leões-marinhos. Os filhotes nascem em janeiro e no começo de março até final de abril começam a aprender a nadar.

O avistamento de ataques de orcas exige esforço e paciência. O dia começa antes do nascer do sol na Estância La Ernestina, propriedade que cria carneiros desde o século passado e tem no naturalista Juan Copello, filho do proprietário, uma geração que concilia a criação de carneiros com preservação ambiental.

A meteorologia quase sempre erra a previsão na região forçando Juan a ir à praia antes das saídas, para escolher onde será a observação que geralmente começa na praia Medina, onde um pequeno grupo de fotógrafos e observadores se aproxima agachados da colônia de leões-marinhos e ali permanecem por até doze horas nas praia úmidas e frias de pedras.

A espera é recompensada por uma paisagem única que a cada nascer do sol se renova, a vida selvagem nas rochosas praias é abundante, não é difícil encontrar elefantes-marinhos, raposas, pinguins-de-magalhães e outras aves como a gaivota, petrel, piru-piru e albatroz.

Os grupos de orcas que praticam a técnica de caça de leões-marinhos geralmente são os mesmos e são identificados por uma mancha cinza abaixo da nadadeira dorsal, atualmente são registradas como caçadoras vinte e cinco orcas. O sistema social dos grupos é o matriarcal, onde uma orca fêmea exerce o papel de líder e uma de suas funções é o ensinamento do apurado e eficaz sistema de caça.

O ataque é silencioso parecendo que o tempo se congela, as orcas se aproximam e param de respirar para não chamar a atenção, submergem e surgem em um só movimento rápido já em direção das vítimas que hipnotizadas são surpreendias. Não se pode negar que o momento sublime da observação de vida selvagem na região é o ataque das orcas, mas conciliar as condições climáticas com presença das orcas e eventualidade dos ataques não é tarefa das mais fáceis, presenciamos em dois anos e quinze dias de saídas, quatorze ataques, mas dezenas de avistamentos de diversos grupos, que ajudaram muito na motivação do prazeroso mas não fácil cotidiano na Patagônia.